A pedido de muitas famílias: Anita no Equador!

Para quem não sabia, eu aventurei-me sozinha num voluntariado de 15 dias no Equador. Porquê Equador? Por razão nenhuma :P. Só porque na agência de voluntariados que usei era o unico país que aceitava voluntarios nas datas q eu precisava. E no fundo, acredito que assim é melhor, sem conhecimento do que vou encontrar, tudo é novidade!

A cidade e arredores---- Fiquei numa família de acolhimento de classe média-baixa, numa zona residencial de Quito. Família muito simpática que adorava o seu cão. Nada inspira muita confiança em Quito. O meu condomínio tinha um guarda armado à porta, as lojas tinham as grades fechadas mesmo durante o día, tipo dão-te o pão pela grade, e até numa loja de móveis, não fosse alguém passar a correr e levar um sofá às costas :P, há um polícia em cada paragem de trole (o eléctrico lá do sítio), na zona turistica dos restaurantes e bares (a chamada gringolândia) há batalhões de policias com coletes à prova de bala e metralhadoras, e a minha mãe de acolhimento assustava-me sempre com histórias de roubos aos gringos. Andava receosa na rua e sentia-me observada (uma branca destaca-se lá) mas na verdade nunca vi indícios de nada. Aliás fiquei surpreendida com o respeito dos equatorianos. Passava várias vezes por obras e nunca ouvi um piropo espanhol. Que chatice pá :) De resto é uma cidade cheia de gente a vender bugigangas na rua e dentro do autocarros, mto mal conservada, lixo espalhado, cheia de cães vádios (o que vale é que não há lá carraças por causa da altitute). Tudo isto com excepção do centro histórico, esse está impecável, mto ao estilo europeu, reflexo da colonizaçao espanhola. Quito é uma cidade enorme, entalada no vale de vulcões. Uma paisagem natural magnifica!

Voluntariado ---- "trabalhei" com miúdos dos 0 aos 12 anos, normalmente os maiores levavam os irmãos mais pequenos, era engraçado ver miúdos de 4 anos a cuidar de um irmão de 2, ou um de 8 anos a carregar às costas um bebé. O projecto consistia em fazer actividades educativas/recreacionais com os miúdos que trabalham nos mercados. São famílias nómadas que andam de mercado em mercado, os miúdos são criados todos ao molho, no meio das verduras que vendem, e são muitas vezes responsáveis pelo posto de venda dos pais. A maioria não vai à escola, por falta de possibilidades económicas mas também por falta de iniciativa dos pais. Pareciam resignados com a miséria e pouco abertos a mudanças. De início, o projecto pareceu-me pouco ambicioso, mas depois fui percebendo estas dificuldades. O objectivo era, a curto prazo, convencer os pais a deixá-lo vir "brincar" connosco e a longo prazo inscrevê-los na escola e dar-lhes atenção médica. O trabalho dos voluntários era ajudar a recolher os miúdos nos postos, levá-los p uma determinada zona do mercado onde montávamos arraiais, cantar umas canções, contar histórias, ensinar os números, as letras, e higiene, fazer uma actividade, normalmente pintar ou colar qq coisa. Cada semana tinha um tema e actividades previamente planeadas por nós. Depois havia a dificuldade em mantê-los calmos, pq ao contrário do que eu pensava, os miúdos não são todos amigos; herdam a rivalidade dos pais, pq as bancas dos mercados não são postos de trabalho garantidos; herdam a responsabilidade de cuidar das bancas desde mto cedo, e estão mtas vezes sozinhos no meio da confusão do mercado. São basicamente miúdos carentes de atenção e com uma facilidade supreendente aceitam-nos como amigos e saltam p o nosso colo. Para eles é um orgulho estar no colo de um gringo. Houve uma miúda que me perguntou "Como é q eles convencem vocês a vir p cá? :) . Posso dizer que foi mto gratificante e é sem dúvida uma experiência a repetir o mais breve posível! (nota: por vezes era complicado o contacto físico pq alguns miúdos estavam realmente sujos, malcheirosos e ranhosos, mas enfim, faz parte).

Viagens --- Mas não foi só trabalho!! Aos fins de semana juntávamos todos os voluntários p viajar. Eram basicamente Americanos e Canadianos, ao todo só houve 4 representantes Europeus e 80% eram gajas. A maioria eram estudantes universitários. Um ou outro tinha histórias de vida mto interessantes, cheias de viagens e aventuras, que deixam vontade de fazer o mesmo. Como eu só tive dois fds, só pude ir duas terras próximas de Quito. Quando digo próximas é umas 3 horas de caminho mas também so custava 3 dolares!! Uma era Banos, conhecida pelas cascatas e pelas fontes de água quente aquecidas pelo vulcão (sim, a ultima erupção foi há uns 2 anos e obrigou à evacuação da cidade) e onde fiz esta maluquice do Bunjee Jumping! Eu só ouvia a voz da minha mãezinha " Isso é perigoso!" E se calhar tinha razão, mas foi espectacular!! Nos momentos em que me demorei em cima da ponte , estava com as unhas fincadas nas mãos do gajo q me estava a apoiar e um aperto no peito inexplicável!

Ah, e comi porquinho da india. Sórdido, mas saboroso.

Depois fomos a Mindo, terra já com um cheirinho de floresta tropical! Aqui fiz uma espécie de slide nas alturas da floresta, mas com cabos enormes, o maior tinha 400 metros. Aqui confirmei a minha fobia a estar de cabeça p baixo, pq havia um "truque" em que deslizava junto a um guia, e ele me segurava os tornozelos enquanto eu ia de cabeça p baixo. Verdadeiramente angustiante, gritei o caminho todo. O gajo só me dizia: Tu puedes! Tu puedes! Esta não é p repetir.

Otovalo foi um mercado de artesanato típico onde os vendedores eram maioritariamente indígenas. Um bocadinho fabricado para turistas, mas comprei coisas giras. A minha pena, e de todas as ramboianas, acreditem, é eu não ter conseguido uma foto de um daqueles homens indígenas, com cara de índios americanos, pele morena, olhos rasgados e cabelos negros numa trança até ao meio das costas. Ai Ai

Aqui na foto ve-se mãe e filha com os trajes tradicionais.

Ah e fui também à "La Mitad del Mundo", onde a latitude é 000. Fizeram lá um monumento há centenas de anos, mas agora, com a era do GPS, veio a saber-se que de facto o meio do mundo é na verdade 200 m ao lado! pormenores!




Saídas à noite ---- a vantagem de estar num grupo com Americanas (como a Marta e a Mariana sabem), é que tens loucura garantida, e um bocadinho de embaraço também :S. Muito "loud" aquelas gajas! Mas umas porreiraças. Era os equatorianos a ensinar a gente a dançar salsa, merengue e reggatone e elas a ensinar os equatorianos a técnica do encaixe por trás. :P Por razões que deconheço, os equatorianos de Quito nao eram nada como os de Otovalo. Foi um surpresa quando descobrimos que tinham q ser maiores de idade para entrar nos bares, pq eles pareciam todos ter 15 anos.

E pronto, Sorry, este post revelou-se um bocado extenso, mas talvez pelo facto de ter ido sozinha, agora apeteceu-me partilhar com vocês todos.

Bjinhos a todos!

Só mais um P.S. Vejam só quem eu encontrei colado ao frigorifico lá de casa? O Aguinaga!!! Eu já nem me lembrava q ele era da selecçao do Equador. Foi giro :)